terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre o medo e a segurança


Hoje aconteceu uma coisa inusitada comigo. Estava procurando um estabelecimento em uma rua no centro, e a numeração não conferia. Passei um bom tempo naquela rua (Conselheiro Laurindo, paralela com a João Negrão), e a certa altura passei por uma menina chorando, e um cara na bicicleta falando calmamente com ela. Nem me passou pela cabeça que o cara a estava assaltando.
Continuei caminhando, e ele veio, andando em sua bicicleta, se colocar ao meu lado. A pergunta “moça, você mora ali na favela?”. Que que eu ia responder? “Não”. Ok, continuei, obviamente assustada, e ele parou pra pedir um cigarro pra um cara que estava para atravessar a rua. Não havia para onde ir, não havia pessoas na rua, apenas carros passando.

O cara aparece ao meu lado de novo, “Moça, eu vou te dizer o que eu quero de você”, e dizendo isso, apontou para sua mão, onde vi uma faca de cozinha, parecida com uma peixeira. Por Deus, eu havia tirado R$ 20 do banco para colocar crédito, e a operadora estava fora do ar. Por Deus que eu tinha aquele dinheiro na bolsa. Falei que era só o que eu tinha, e entreguei o dinheiro sem tirar a carteira da bolsa. Ele me pediu celular, e eu, quase chorando, disse que não tinha, apesar de estar escondido. Ele ameaçou descer da bicicleta, mas no fim apenas mandou que eu ficasse quietinha e saiu.

Sabe, toda a minha raiva e angústia não estão no fato de ter perdido R$ 20, porque percebo que isso não vale nada. Minha revolta está no fato de não poder andar em segurança, no fato de o Estado cobrar de mim inúmeros impostos e não me garantir aquele direito básico, o direito à segurança. Minha revolta está naquele cara que financia as drogas, e permite que exista esse vagabundo para assaltar as pessoas trabalhadoras na rua para sustentar um vício que fatalmente os levará à desgraça. Minha revolta está no fato de que agora vou andar na rua sempre com medo, porque não há proteção para quem não está armado, não há segurança para ninguém em lugar nenhum.

Mas, ainda assim, agradeço a Deus porque estou inteira, viva, sem ferimentos físicos, e, principalmente, porque tenho essa vida, porque nunca me envolvi com drogas, porque sou capaz, possuo estrutura familiar, planos e oportunidades. Eu ainda sou alguém.

Aquele cara, magro, de olhos vermelhos, com uma faca na mão, ele não é ninguém.