Hoje precisei sair às pressas para buscar meu irmão na escola, porque meu pai não havia chegado. Na volta, estando sozinha (meu pai havia sido mais rápido, com o carro, claro), fiz o mesmo caminho de sempre. A rua e a calçada adjacente são mal-iluminadas, então não há diferença entre ir por um ou outro caminho.
Passando nessa calçada, um cara vinha, de toca e carregando sua bicicleta. Continuei, normalmente. Eis que, quando nos cruzamos, ele rapidamente tenta passar a mão entre minhas pernas. Por sorte seu reflexo era tão ruim, que só acertou minha perna, e provavelmente entortou seus dedos. Mas me machucou, mesmo assim. Sem falar no susto.
Só tive tempo de mandar um “filho da puta” não muito alto, e continuei, com passo apressado.
Não consegui chorar, mas continuei com uma angústia incrível no peito. Não posso contar para meus pais, ou eles me impediriam de fazer o que preciso fazer à noite, como estudar, ou dar aula.
Mas então, imagino como se sentem as mulheres que sofrem abusos muito piores. O que me aconteceu foi só um susto, mas ainda assim, não poderia ter acontecido. Que sociedade é essa que cria suas mulheres para se calarem diante da violência, que força padrões de beleza para, então, ultrapassar os limites do respeito e agredir, física e psicologicamente, um ser humano que deveria ser tratado como igual?
Sei que o que me aconteceu não foi nada comparado com o que milhares de meninas e mulheres sofrem todos os dias pelo mundo. Mas não deveria ser motivo de aceitação. De resignação. De silêncio.
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